31/10/2018

Dói


Dói pra caramba

Não vou comentar tudo o que mudou em minha vida de uma vez só. Foram  muitas coisas. O que preciso dizer hoje é sobre a eleição. Essa, de 2018. Acabou comigo, estou arrasada. Está difícil trabalhar, conversar, comer. Só consigo pensar em tomar vinho. É antigo o meme, mas tá valendo “ O Brasil me obriga a beber”. Está ficando insuportável essa vida. A  minha vida. Não sabendo o que fazer estou fazendo tudo. Reflexologia, análise, terapia com psiquiatra. Falta pouco pra ir na benzedeira. Fico sufocada, não consigo respirar. Meu namorado (é, agora tenho namorado e não marido) diz que não me entende. Nem eu, meu amor, me entendo.
Trabalho no lugar que quero, na praia, moro numa cidade minúscula que posso ir andando almoçar em 3 minutos. Mas mesmo assim o vazio continua aqui, o Godofredo está ali me olhando, de vez em quando tomando conta de mim. Acho que será sempre assim. Eu e Godofredo não iremos nos separar, ele faz parte de mim e eu faço parte dele. Teve uma época que achei que tinha matado Godofredo pra sempre. Ledo engano. Ele sempre esteve comigo. Acho que talvez eu possa tornar-me amiga dele. Quem sabe? Talvez dessa forma eu e ele vivamos mais felizes e leves.
O peso continua sendo um problema pra mim. Tanto metaforicamente quando fisicamente mesmo. Tentarei escrever mais, isso me deixa mais leve, coração livre, mente aberta. Pretendo voltar mais vezes aqui com mais frequência. Quem sabe não é o que me falta pra organizar esses pensamentos desconexos?

19/06/2011

Tomei vinho no restaurante

A minha volta do fundo do poço, não foi uma volta triunfal. Sempre foi mais como diria Lenin: um passo para trás, para dar dois passos para frente. Foi difícil, e é ainda hoje. Diante disso posso apontar dois fatos significativos para mim:
1) em 2008, fui até a Justiça Federal, depois sentei numa confeitaria e tomei um café com pão de queijo, sem medo algum. Fiquei tão feliz que liguei para minha irmã de lá, só para contar a minha façanha.
2) a segunda vez, foi no dia 16/12/2010, quando pela primeira vez, com 37 anos na cara, almocei e tomei uma taça de vinho sozinha. A sensação foi ótima, reveladora, estimulante, fascinante.

Como pude demorar tanto tempo para fazer algo tão simples? É que nunca é tão simples. Não sentir medo, raiva, solidão. Só uma sensação de que é isso que quero para minha vida.

Poder decidir o que quero fazer sem levar em consideração a opinião de ninguém.

L I B E R T A D O R

Sinto como se tivesse me preparado para viver sozinha para o resto de minha vida, o que é verdade e sempre foi. Nascemos sozinhos e vamos morrer sozinhos.

Lembro como foi a primeira vez que fui no cinema sozinha, devia ter uns 17 anos. Estava morrendo de raiva do meu namorado na época, e fui como que num sentimento de revolta.

A última vez que fui no cinema sozinha minha mãe me levou e ficou passeando com uma amiga no shopping. Blargh!! O que aconteceu comigo? Por que fiquei tanto tempo sofrendo?

Apenas sei que não pautarei minha vida pelo medo, seja ele qual for.

Hoje sei que comigo, as coisas funcionam de forma lenta e vagarosa. Vou no meu ritmo, sem esmorecer. Sou lenta, muito lenta para mudanças. Preciso de tempo para digerir a mudança, aceitar, assimilar. Sou assim. Lerdinha.

Poeminha bobo

Receita da felicidade (5/01/2005)

Flores amarelas para alegrar
Um gatinho para acariciar
Um cachorro para babar
Um homem para amar
Um livro para adorar
Vinho para beber
e massa para comer.


Simples mas verdadeiro.

05/04/2011

Enganos


Em 13 de novembro de 2003 escrevi o texto abaixo, fazia um mês que havia feito a cirurgia bariátrica:

Recomeço

Estive pensando, enquanto me recupero da cirurgia, que enterrei muitos fantasmas na operação. Sinto que o corte realizado não foi apenas no meu corpo, mas na minha alma. Como se do corte aberto surgisse uma nova Anne, assim como a fênix que ressurge das cinzas, mas no meu caso, do corte. A mudança já havia começado há algum tempo, a concretização ocorreu com a cirurgia.

A angústia, que noite e dia atormentava-me, cessou por completo. Estou tomada de uma serenidade jamais sentida. As idéias começam a fluir. Voltou a vontade de fazer coisas diferentes, antes tão presente em mim, e que estava ausenta há tempos.

Vontade de viver intensamente cada momento, sabedora de sua fugacidade. E feliz justamente por este motivo.

Ontem um vendaval varreu a cidade e também meu espírito, deixando-me limpa de mágoas, culpas, ressentimentos, remorsos, amores não realizados . . . Sinto-me finalmente livre. Livre para recomeçar. Livre para continuar. Livre para viver.

Gostosa essa sensação de leveza que estou experimentando. Por muito tempo carreguei um peso que não era meu, era das pessoas, das situações que tinha vivido e não conseguia me desvencilhar. Agora foi. Tudo ficou para trás.

Voltando ao tempo atual: não podia estar mais enganada. A angústia deu um tempo para eu poder me recuperar da cirurgia sim, para voltar mais forte de um jeito que me aniquilou por completo.
Hoje, 7 anos depois da cirurgia, 4 de análise, vejo o quanto tive que sofrer para sair mais renovada. Livre ainda não estou, as amarras da minha vida são internas, estão dentro de mim.
O difícil é compreender que a solução é um processo, nunca um ato isolado ou uma decisão tomada num impulso.
Não tem como extirpar a dor que sinto porque ela faz parte de meu ser, o que posso fazer, agora aprendi, é lidar com essa dor.
Hoje estou melhor que ontem e, com certeza, muito melhor do que em 2003, pois vejo com clareza.
Um brinde a minha vida!